terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Quando é preciso chover

Quando é preciso chover

Era um daqueles dias de calor insuportável. Daqueles em que a roupa mais leve de algodão ainda insiste em colar no corpo. Não haveria água suficiente para aplacar a sede, a ansiedade. Ela já estava há algumas horas no centro da cidade e tentava terminar tudo só pra poder tomar um banho antes de mais umas horas de trabalho. Não estavam sendo dias fáceis. Final de ano. Ela sabia bem as coisas que ele trazia. Estava tentando não lembrar disso. Mas aquele dia tão quente trazia consigo o fim de mais um ano e outro verão (sim, ela sempre preferira o inverno, por motivos que ela não tinha definidos claramente). Sempre pensava, ‘como sinto-me mal com este calor, que saudade do inverno!’. Talvez no inverno ‘hibernassem’ as dores da sua alma. É isso! Será por isso preferia-o ao verão? Talvez o problema não fosse o final do ano, as festas... ou seriam também? Ela passou a mão na testa, que estava encharcada. Andou até a parada de ônibus – parecia em câmera lenta. Por um instante teve uma dúvida: pegar o ônibus que saía antes e que a deixava um pouco mais longe de casa ou esperar o próximo que a deixava na porta? Mas, o mormaço era tanto que ela preferiu entrar logo na condução. O motorista já a conhecia e disse-lhe ‘entra logo, menina, que vai chover’. Ela lhe devolveu um sorriso incrédulo. Chuva? O céu está de brigadeiro!

Sentou-se num banco bem atrás e perdeu-se nos pensamentos. Ela gostava de andar de ônibus. Andar de ônibus era a sua folga. Era onde refugiava-se.

Estava quase em casa, aí lembrou que tinha que andar mais um pouco. Desceu. Junto com ela, desceu dos céus a chuva, forte, abundante, ensopando tudo. Ela pensou em correr. Mas foi só por um instante. Chovia e fazia sol. Acalmou seu passo e caminhou na chuva, que foi lavando tudo, até a sua alma. E ela pensou que às vezes é preciso chover.

2 comentários:

Unknown disse...

Gostei muito, Vanessa. JP

Vanessa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.