quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Dos mortos e das luzes

Alguns amigos mais próximos sabem que não sou entusiasta desta época do ano. A verdade é que já me senti pior nos finais de ano. Com o passar do tempo, a gente vai abrandando certas coisas. Não se apressem! Têm coisas que nunca sossegam na alma da gente, mas essas não devem mesmo! São as que nos mantém, da madeira de que somos feito, outro dia escrevo sobre elas (rs)... Mas, aquelas que nos trazem alguma dor ou desapontamento, podem ficar ‘esquecidinhas’ ou deixadas de lado por tempo indeterminado. Até que, por algum motivo qualquer, sejam recuperadas. O que é da vida.

Meus mortos sempre acordam nessa época do ano. E todo ano eu decido que alguns deles tenho que enterrar pra sempre. E eles voltam. Acho que outras pessoas passam por isso – não necessariamente nessa época. Os meus mortos escolhem o fim de ano pra me visitar.

Quando eu era criança, adorava toda essa atmosfera. Ainda enfeito árvore de Natal mesmo sem saber direito o significado. Só pra lembrar do prazer que era fazer isso na infância. E gosto das luzes. Cris, eu também gosto das luzes.

A verdade é que fico melancólica nessa época. Por uma conjunção de motivos. Meus. Pronto. Depois passa, é só chegar janeiro. Deu. Foi preciso.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Clarice

As coisas que Clarice Lispector escreve se parecem muito comigo e com a minha vida. Confesso que até me assusto às vezes.

“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”
(Clarice Lispector)

Viejo Brujo


Viejo Brujo

Assim era conhecido Jorge Luis Borges, escritor e poeta argentino. Ficou cego aos 56 anos e passou a ditar seus livros a amigos e assistentes, depois para sua secretária Maria Kodama, com quem casaria em 1986, pouco antes de morrer. É impossível ler Jorge Luis Borges e não se inebriar com o seu jeito simples e luminoso de falar às almas. A biografia do Viejo Brujo é envolvente, desde o seu despertar prematuro para as letras até a espera do Nobel – que não veio até a data da sua morte.

Eu sempre acho que a poesia nunca é demais. Então aí vai uns versos do Viejo Brujo:

UM CEGO

Não sei qual é a face que me mira

quando miro essa face que há no espelho;

e desconheço no reflexo o velho

que o escruta, com silente e exausta ira.

Lento na sombra, com a mão exploro

meus traços invisíveis. Um lampejo

me alcança. O seu cabelo, que entrevejo,

é todo cinza ou é ainda de ouro.

Repito que perdi unicamente

a superfície vã das simples coisas.

Meu consolo é de Milton e é valente,

porém penso nas letras e nas rosas.

Penso que se pudesse ver meu rosto

saberia quem sou neste sol-posto.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Socoooooooooorro!!!


Tô precisando de férias. Essa semana tô me superando. Esqueci coisas, horários, troquei nomes, papéis, pessoas, pedidos... Estou numa canseira danada. Não sei se agüento mais um ano de sessenta horas semanais. É como jogar os noventa minutos mais a prorrogação. Estou no piloto automático. Alguém quer me desligar, por favor?

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Quando é preciso chover

Quando é preciso chover

Era um daqueles dias de calor insuportável. Daqueles em que a roupa mais leve de algodão ainda insiste em colar no corpo. Não haveria água suficiente para aplacar a sede, a ansiedade. Ela já estava há algumas horas no centro da cidade e tentava terminar tudo só pra poder tomar um banho antes de mais umas horas de trabalho. Não estavam sendo dias fáceis. Final de ano. Ela sabia bem as coisas que ele trazia. Estava tentando não lembrar disso. Mas aquele dia tão quente trazia consigo o fim de mais um ano e outro verão (sim, ela sempre preferira o inverno, por motivos que ela não tinha definidos claramente). Sempre pensava, ‘como sinto-me mal com este calor, que saudade do inverno!’. Talvez no inverno ‘hibernassem’ as dores da sua alma. É isso! Será por isso preferia-o ao verão? Talvez o problema não fosse o final do ano, as festas... ou seriam também? Ela passou a mão na testa, que estava encharcada. Andou até a parada de ônibus – parecia em câmera lenta. Por um instante teve uma dúvida: pegar o ônibus que saía antes e que a deixava um pouco mais longe de casa ou esperar o próximo que a deixava na porta? Mas, o mormaço era tanto que ela preferiu entrar logo na condução. O motorista já a conhecia e disse-lhe ‘entra logo, menina, que vai chover’. Ela lhe devolveu um sorriso incrédulo. Chuva? O céu está de brigadeiro!

Sentou-se num banco bem atrás e perdeu-se nos pensamentos. Ela gostava de andar de ônibus. Andar de ônibus era a sua folga. Era onde refugiava-se.

Estava quase em casa, aí lembrou que tinha que andar mais um pouco. Desceu. Junto com ela, desceu dos céus a chuva, forte, abundante, ensopando tudo. Ela pensou em correr. Mas foi só por um instante. Chovia e fazia sol. Acalmou seu passo e caminhou na chuva, que foi lavando tudo, até a sua alma. E ela pensou que às vezes é preciso chover.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

FLORBELA ESPANCA



MAIOR TORTURA


Na vida, para mim, não há deleite.
Ando a chorar convulsa noite,
E não tenho nem sombra em que me acoite,
E não tenho uma pedra em que me deite!

Ah! Toda eu sou sombras, sou espaços!
Perco-me em mim na dor de ter vivido!
E não tenho a doçura duns abraços
Que me façam sorrir de ter nascido!

Sou como tu um cardo desprezado
A urze que se pisa sob os pés,
Sou como tu um riso desgraçado!

Mas a minha Tortura inda é maior:
Não ser poeta assim como tu és
Para concretizar a minha Dor!


Toda vez me deparo com um poema novo (pra mim) de Florbela Espanca. É sempre uma descoberta dela e de mim.

A América é Colorada mais uma vez! SALVE A ALMA COLORADA DA MINHA MÃE!


Mais uma vez o vermelho vibrou. Mais uma vez o vermelho brilhou.
Sou de uma geração colorada que viveu um longo período de jejuns e insucessos.
Apesar de ter nascido em Caxias - e hoje torcer pela SER Caxias, já que a família materna toda é Caxias - nunca estabeleci um vínculo emocional-torcedor com os times da cidade. Uma prima minha que também nasceu em Caxias e hoje mora em Pelotas disse que durante muitos anos sentiu-se culpada por no seu peito bater um coração colorado.
Poucas pessoas sabem disso, mas até os meus sete, oito anos eu me dizia gremista. Não, não tenho pudores de confessar isso aqui. Quando me dispus a adentrar esse universo, sabia que corria riscos... rsrs... Bom, a verdade é que meu pai sempre havia sido uma importante referência na minha vida, coisa de criança, ele viajava muito e quando vinha pra casa era quase uma visita, daquelas que você espera ansiosamente. Então tudo que estava ligado à ele me era importante - e ainda é - mas, ele é gremista, roxo, doente, daqueles irritantes mesmo! Eu era gremista por isso. Mas, circunstâncias da vida, inclusive dos anos afastada do meu pai, me transformaram.
A gente cresce sob a influência de tantas coisas. Minha mãe, mesmo que ela não acredite, se transformou na principal referência da minha vida pra "quase" tudo. A sua paixão pelo colorado é uma coisa digna de romances. Ela sempre sabe de tudo. Escalação, negociações, bastidores, quem é quem, quem ela acha que é colorado, que jogador veste a camisa e todas essas coisas que orbitam nesse universo fantástico do futebol.
Fui envolvida pela aura vermelha! Contagiada, abduzida (rsrs), ganha pela alma colorada da minha mãe, que não esquece de Falcão, Carpeggiani, Valdomiro, Figueroa, Manga... e tantos heróis colorados. Sim, minha mãe me converteu. Minha alma sempre foi colorada e estava desgarrada. Minha mãe me salvou!
Salve a ALMA COLORADA da minha mãe!

P.S. Ela nem dormiu quase. Do meu quarto eu ouvi ela sintonizada na Rádio Gaúcha, durante a noite toda, a espera de todos os detalhes da conquista.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Eu vi


Eu vi o pôr-do-sol do Guaíba na sexta-feira. A imagem até que faz jus, mas estar lá é mágico.

Do Tato, Trato e Retrato

Parece fácil tomar essa decisão de escrever um blog. Parece. Depois de tantos anos de navegação, só agora aportei aqui.

Por quê? Não sei ao certo a resposta. Mas levanto algumas hipóteses.

A alma de uma pessoa pode ser um baú velho cheio de coisas que não se pretende revirar tão cedo. Mas, algumas mudanças não permitem que apenas troquemos o baú de lugar. É preciso abrí-lo, fazer uma faxina, para que mais adiante novas coisas sejam lá colocadas. É necessário quebrar os ovos...

Há algum tempo atrás eu tinha o hábito de escrever em papel as coisas minhas. Quase todos encontram-se perdidos, esquecidos ou mesmo jogados fora. Talvez seja a hora de guardar alguns... Não há nenhuma pretensão com isso.

Talvez eu queira apenas me enxergar um pouco nas coisas que escrevo (escreverei). Acho que estamos sempre em busca do que somos. E, acreditem, acho que essa busca não termina nunca!

Um pouco também é para me aventurar pela língua, brincar com a pontuação, verbos, adjetivos, substantivos... Mas também não pretendo ocupar lugar de poetas, cronistas, contistas (existe essa palavra?), enfim, escritores da Última Flor do Lácio.

Por fim, busco atingir a mim mesmo escrevendo aqui. Mas não há constrangimento em dizer que se atingir amigos, amores ou mesmo estranhos e anônimos navegadores não me fará mal.

A porta está aberta.