quinta-feira, 19 de março de 2009

Quintana


Quintana é o poeta de toda a minha vida. Desde a infância com a sua rua cheia de cataventos. A sua poesia pra mim tem uma mensagem muito clara: viva feliz e não complique tanto as coisas. Alguns dizem que a sua poesia era simples. Quintana não ligava a mínima. Dizia o que tinha que ser dito. Queria que a sua poesia chegasse a todos, como um dia de sol ou de chuva. Estava navegando por aí e encontrei muitas palavras de Quintana. Ele tinha muito senso de humor e era deslumbrado com a natureza, com a vida. Escolhi algumas coisas ditas por ele pra por aqui. A primeira delas já enviei a alguns amigos em tempos atrás, por ter achado genial. É um Quintana falando dele mesmo, com seu humor e franqueza característicos.

"Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.
Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não astava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu... Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo - que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras."

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