quinta-feira, 19 de março de 2009

Quintana 2


Fiquei tão empolgada ao ler de novo a 'autobiografiazinha' de Quintana que achei que ela merecia um post só pra ela. Mas ainda estou com a alma 'contaminada' por ele. Então, vai aí mais algumas coisinhas.

"No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento..."

"Não me ajeito com os padres, os críticos e os canudinhos de refresco: não há nada que substitua o sabor da comunicação direta."

"Se eu amo o meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante?"

"Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarinho."

"Sempre me senti isolado nessas reuniões sociais: o excesso de gente impede de ver as pessoas..."

"Só se deve beber por gosto: beber por desgosto é uma cretinice."

"INSCRIÇÃO PARA UM PORTÃO DE CEMITÉRIO
Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!"

"Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado."

"Poema
Mas por que datar um poema? Os poetas que põem datas nos seus poemas me lembram essas galinhas que carimbam os ovos..."

"Quando duas pessoas fazem amor
Não estão apenas fazendo amor
Estão dando corda ao relógio do mundo".

Um comentário:

John D. Godinho disse...

Inscription for a Cemetery Gate

On the same headstone you’ll find
the people’s view of gain and loss:
above the date of birth, a star,
above the date of death, a cross.

But many of those who rest here now
would correct us with their final breath:
“There should be a cross above my birth…
“and the light of a star above my death!

Mario Quintana
(Translated by John D. Godinho)
in The Color of the Invisible