quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Cena Urbana

Estava andando apressada pelo centro da cidade, atravessando a praça movimentada, cheia de ambulantes, velhinhos sentados nos bancos, aquelas moças alegres que ali ficam, pouco vestidas, aproveitando o início do verão, e todo o tipo de gente, do povo. Estava atrasada como sempre. Atravessei a praça na diagonal com a esperança de que isso fosse mais rápido. Na esquina tinha um homem, um artista da rua, com sua latinha ali a espera de algum metal ou papel, que garantisse que ele estaria ali novamente amanhã. Era um senhor já, talvez uns 60 anos, ou seria menos? Talvez um pouco judiado pela dura vida que levou (ou leva?). Pode ser que tenha menos idade. Tinha as feições de quem vem dos campos de cima da serra. Um brasileiro, um bugre (assim eram chamados os indígenas locais), como os gringos gostam de dizer aqui – sim, porque todo mundo é italiano na cidade. Brasileiros são os outros.
O fato é que ele fazia uma coisa inédita (ao menos pra mim). Ele tocava violão e ao mesmo tempo ‘tocava’ uma folha. Isso. Uma folha de uma árvore qualquer (ouso dizer que era uma folha de ligustro). Com a folha na boca ele tocava ‘Mérica, Mérica’ em primeiro plano, o violão que o acompanhava apenas fazia a base.
Na minha pressa urbana fui obrigada a diminuir o passo para ver e ouvir. A cena era quase improvável. Um descendente de bugres tocando a ode da imigração com uma folha de ligustro??? Admirei a astúcia do homem. Ele sabe bem sobre as coisas desta terra. Tratou de fazer a limonada com os limões.

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